‘Fui obrigada a alisar o cabelo da minha filha porque ela sofria bullying’, diz mãe de menina no Ceará
Pesquisa revela que 48% dos estudantes de Fortaleza se sentem inseguros dentro da escola.
Os cabelos cacheados de Maria Eduarda, 12, tornaram-se lisos quando a menina tinha ainda quatro anos. A mudança, segundo a mãe, Neurilane Sampaio, foi uma forma de apaziguar as chacotas que faziam com a garota no ambiente escolar. “Ela chegava em casa chorando porque as meninas ficavam brincando com ela, diziam que ela tinha cabelo ruim”, desabafa a mãe. Maria Eduarda sofreu agressões verbais e físicas em escolas de Fortaleza.
“Em casa, a gente dizia que o cabelo dela era bonito, mas na idade dela conta muito ir para o colégio, e as crianças ficarem falando mal”, conta Neurilane. Como a garota, quase metade (48%) dos estudantes da capital cearense não se sentem protegidos dentro da escola, de acordo com a pesquisa Infância [Des]Protegida, da organização não governamental (ONG) Visão Mundial.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME), responsável pelos alunos até o 9º ano, informou que promove uma política de proteção à criança e ao adolescente por meio do trabalho da Célula de Mediação Social e Cultura de Paz da SME.
O grupo atua no fortalecimento da escola para a resolução de conflitos e pela disseminação da cultura de paz. Conforme a SME, o trabalho preventivo é realizado com a Célula de Segurança Escolar, que atua em ação conjunta com a Inspetoria de Segurança Escolar da Guarda Municipal (ISE) e a Secretaria Municipal da Segurança Cidadã.
O estudo da Visão Mundial revela que, quanto maior a idade, menor é a chance de os jovens se sentirem seguros. A pesquisa foi realizada com 3.814 estudantes de 9 a 17 anos, do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em 67 escolas de ensino público de Fortaleza, Salvador, Recife; Nova Iguaçu (RJ); Canapi e Inhapi (AL); e Governador Dix-Sept Rosado (RN).
Índice maior entre crianças negras
O levantamento mostra também que um em cada três estudantes relatou situações em que sofreu violência direta ou consequência da violência urbana: 84% presenciam brigas entre alunos e 33% sofrem ameaças, abuso físico ou xingamentos na escola. Entre crianças e adolescentes negros, este último índice sobre para 37%.
Neurilane conta que mesmo após alisar o cabelo da filha, as brincadeiras não pararam. “Ela estava se sentindo melhor, bonita, mas o bullying continuou. Diziam que o cabelo dela era alisado à força, que a pele dela era feia.”
Há um ano, a família de Maria Eduarda foi para a Região Metropolitana de Fortaleza. Em 18 de junho, a menina foi agredida por um menino com socos e puxões de cabelo em frente à escola Adauto Bezerra Lima, no Maracanaú.
A mãe de Maria Eduarda procurou a coordenação da escola em busca de garantir a segurança da filha. Um boletim de ocorrência por agressão corporal dolosa foi registrado na Delegacia Metropolitana de Maracanaú. Conforme a mãe, a menina ainda está assustada e não quer sair mais de casa.
Segundo Karina Lira, assessora de proteção infantil da Visão Mundial, a violência pode levar ao baixo desempenho escolar e à desmotivação da permanência na escola. Na dimensão da saúde mental, os jovens podem desenvolver depressão e dificuldade de estabelecer vínculos sociais e afetivos. Há preocupação ainda com propensão à agressividade e drogadição. “É um impacto global”, lamenta.
Fonte: Por Yohana Capibaribe e Nícolas Paulino, G1 CE - https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/07/09/fui-obrigada-a-alisar-o-cabelo-da-minha-filha-porque-ela-sofria-bullying-diz-mae-de-menina-agredida-no-ceara.ghtml
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